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Serviços de psicologia e orientação e de ação social do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos

“Podemos criar um projeto comum, novas iniciativas, no sentido de responder aos desafios da comunidade educativa.”

Conheçam a equipa que criou uma resposta social imediata para as necessidades emergentes na comunidade escolar durante a pandemia por Covid-19. Conhecemos a psicóloga Mónica Costa e as educadoras sociais Ilda Silva e Maria João Guerra que partilharam como tudo aconteceu!

Face à pandemia de Covid-19, como descrevem o posicionamento e a ação do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos?

Mónica Costa: O lema da nossa escola é ‘Mais Escola, Mais Educação, Melhor Futuro!’ e o futuro constrói-se diariamente. Em Março quando a pandemia de Covid-19 surgiu, vivemos a incerteza, o medo e tivemos de nos unir. Numa perspetiva comportamental, apoiamos os alunos, os pais e os professores, mas foi também preciso assegurar a resposta às necessidades básicas. A partir da primeira necessidade identificada na comunidade educativa, construímos o projeto que é hoje o nosso banco alimentar. Felizmente, o agrupamento pauta-se pela união e rapidamente se envolveram as equipas do Serviço de Psicologia, do Serviço de Ação Social, os pais, os alunos, os assistentes operacionais e os professores. Todos colaboram, seja numa ação direta – na organização dos cabazes, ir às compras – seja numa ação indireta – na recolha de alimentos, de valores monetários, na organização de uma corrida solidária. Esta corrida apoiou a iniciativa financeiramente, pois conseguimos fazer uma angariação substancial e reforçar o espírito de união da comunidade educativa.

Ilda Silva: O agrupamento conseguiu envolver a comunidade educativa de forma muito diferente. Os alunos que colaboram connosco percebem que esta iniciativa é uma mais valia e participam trazendo alimentos que farão a diferença para algumas famílias. Os pais estão envolvidos na iniciativa através do contributo alimentar e da partilha de valores que se vão transmitindo e perpetuando. Os professores compreenderam o nosso trabalho social e contribuíram ativamente para que todos juntos fizéssemos a diferença. 

Maria João Guerra: Apesar das nossas formações serem distintas, existe transversalidade na nossa ação, o que nos permite chegar às pessoas e dar resposta às necessidades sentidas.

Mónica Costa: Da parte da psicologia, conseguimos trabalhar valores que de outra forma seria muito mais difícil.

Ainda hoje paramos muitas vezes para refletir sobre o que fazemos e sobre o que é a nossa missão, mas acreditamos que continuamos a promover estes valores na comunidade educativa: o espírito de solidariedade e entreajuda, a cooperação, o altruísmo.

De que forma a Vossa iniciativa de resposta social, criada durante o primeiro confinamento, foi acolhida pela comunidade educativa?

Ilda Silva: Como uma mais-valia para a comunidade educativa. As pessoas perceberam que as suas doações, alimentos, roupas e bens essenciais, chegam às famílias. Por sua vez, estas famílias são encaminhadas pela Direção de Turma, minimizando o tempo de resposta e ultrapassando algumas barreiras de pudor em relação ao pedido de ajuda. A informação que temos dos agregados é na base da palavra; não existe documentação ou registo que ateste a necessidade comunicada. Até porque algumas destas famílias são de classe média e não têm subsídios atribuídos, mas encontram-se em situações muito precárias. 

Mónica Costa: Nós trabalhamos na base da palavra, do momento, da confiança e da relação. 

Maria João Guerra: Essa é a nossa forma de estar.

Mónica Costa: O nosso agrupamento foi sempre assim. Recordo que, há 3 ou 4 anos, uma família precisava de alimentos e nós, em 30 minutos, enchemos um carro e entregamos tudo. Durante este confinamento, uma família não tinha brinquedos e o conselho de turma reuniu o equivalente a duas malas de carro com brinquedos novos que foram entregues à família.

Os alunos de uma turma que tinham o hábito de celebrar aniversários atirando farinha e ovos, decidiram que, em cada aniversário na turma, estes ingredientes seriam recolhidos e entregues ao nosso banco alimentar. 

Que desafios têm encontrado no âmbito da implementação da Vossa iniciativa?

Maria João Guerra: Para manter esta iniciativa temos apelado à comunidade educativa para que os contributos continuem a existir. Contamos com o apoio das associações de pais, dos alunos, dos professores, dos assistentes operacionais. Ainda assim, tivemos de organizar outras atividades, como a Corrida Virtual e o programa de ginástica semanal ‘Toca a Mexer’, cujos donativos revertem a favor do nosso banco alimentar. Na gestão desta iniciativa, temos de garantir que a recolha dos contributos chega para o número de famílias que identificamos para ajudar mensalmente. Este número tem vindo a crescer, ainda que já tenhamos exemplos de famílias que se autonomizaram e que agora contribuem para ajudar outras famílias. Sabemos ainda que este número tem vindo a aumentar, essencialmente, pelo aumento da visibilidade da iniciativa, mas também pela dificuldade das associações da comunidade em dar resposta a tantos pedidos de ajuda.

Mónica Costa: Existe outro desafio relacionado com o estereótipo sobre as famílias em situação precária. A nossa equipa tem vindo a esclarecer, junto da comunidade educativa, que as famílias são apoiadas em função das necessidades sentidas e não da sua aparência. 

Sendo uma iniciativa não programada, de que forma ajustaram a Vossa rotina para não comprometer a atividade dos serviços de psicologia e orientação e de ação social no Agrupamento?

Mónica Costa: No último ano, a nossa equipa cresceu e, atualmente, contamos com sete profissionais dedicadas às inúmeras situações que surgem diariamente. Temos uma equipa unida que, apesar de se conhecer há pouco tempo e de existirem poucos momentos de convívio, tem o coração no agrupamento. 

Ilda Silva: A nossa resposta a este desafio é trabalhar com paixão. 

Mónica Costa: Não é preciso pertencer a uma organização para nos sentirmos solidárias. Estar atenta aos outros, ter empatia, responder às necessidades de cada pessoa é um trabalho contínuo que já desenvolvíamos e continuamos a desenvolver.

Maria João Guerra: Nós temos as nossas agendas, mas a forma como nos organizamos torna esta iniciativa possível. Enquanto uma equipa vai comprar os legumes, os frescos, os enlatados e o leite, outra equipa faz os cabazes e contacta as famílias, tornando a iniciativa possível pelo número de pessoas envolvidas e empenhadas.

Ilda Silva: A gestão é difícil, mas contamos com equipas muito unidas e organizadas. Por exemplo, a equipa de Educação Especial, que inclui colegas que já não estão no agrupamento, conheceram esta iniciativa e decidiram colaborar. Todas as semanas ajudam-nos na aquisição e reposição de legumes e de frutas, organizando-se para que nunca falte nada. 

Mónica Costa: Ainda que estas necessidades já existissem, hoje elas são mais prioritárias e, por isso, o nosso serviço tem que se redefinir continuamente. A Direção do agrupamento também nos permite ter esta flexibilidade, existindo uma porta aberta para tudo aquilo que precisamos, sem entraves da Direção.

 

Ainda não existindo dados para avaliar o impacto da Vossa iniciativa na comunidade escolar, qual a Vossa perceção sobre os efeitos desta no bem-estar dos alunos e dos professores?

Mónica Costa: Acho que a melhor avaliação do impacto é o olhar de cada um quando traz um alimento, quando nos vê a fazer os cabazes. 

Ilda Silva: Quando os professores, e todos os que colaboram com o projeto, nos perguntam o que precisamos. Neste momento, já não temos de dizer o que nos falta porque frequentemente antecipam-se. Por exemplo, recebemos um telefonema de uma professora que juntou um grupo de amigas que todos os meses fazem uma doação. 

Maria João Guerra: No caso das famílias, percecionamos uma maior proximidade na relação. Temos famílias que abertamente nos dizem que no próximo mês já não irão necessitar de apoio e que no caso de virem a precisar novamente sabem que podem contar com o nosso apoio. De facto, não sentimos que haja aqui um abuso. Esta relação é construída com base na confiança e no compromisso. 

Mónica Costa: Os alunos também percebem que não estão sozinhos, que quando têm problemas a escola pode ajudar.

Ilda Silva: Esta nova realidade, e a nossa iniciativa, permitiu que os alunos tenham consciência que existem contextos sociais diferentes e que, de repente, o seu próprio contexto se pode alterar. Por isso, hoje ajudam um amigo podendo ser eles a precisar de ajuda no futuro. 

Mónica Costa: Percecionamos mudanças em alguns comportamentos, como casos de alunos que pagam um lanche, um pão ou até um chocolate ao amigo. E fazem-no com prazer, sentem que têm de partilhar aquele lanche com amigos que de outra forma não o teriam.

Maria João Guerra: Esta atenção não é uma atenção piedosa, de olhar o outro como vítima ou com pena, é tomar consciência de que há diferentes percursos de vida e se estivermos atentos podemos fazer a diferença. Os alunos demonstram essa consciência e isso para nós é muito enriquecedor. 

Após o sucesso na implementação desta iniciativa, que outras gostariam de criar para o Vosso contexto educativo?

Mónica Costa: O que gostava mais era manter a equipa. Uns elementos são fixos, outros nem por isso, e gostava que a comunidade percebesse que esta iniciativa só é possível porque estamos todas aqui. Este é o meu maior desejo. 

Ilda Silva: Concordo. A estabilidade de uma equipa, e o facto de podermos partilhar ideias, permite que a equipa, o agrupamento e a comunidade educativa deem resposta a situações como esta que vivemos mas também cria as bases para implementar iniciativas novas. 

Maria João Guerra: De facto, havendo a possibilidade de manter a equipa nós podemos sonhar mais alto. Podemos criar um projeto comum, novas iniciativas, no sentido de responder aos desafios da comunidade educativa.

Saiba mais sobre o Agrupamento de escolas Dr. Costa Matos – Vila Nova de Gaia aqui.

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