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Educação a distância: Sensibilidade e Bom Senso

“O potencial e as vantagens das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC)”

“Sensibilidade e bom senso” é o título do primeiro romance da famosa escritora Jane Austen. Recentemente, ao cruzar-me com este livro numa prateleira, e colocando de parte o estilo literário da obra, ocorreu-me que passados alguns séculos, estas duas palavras ainda fazem tanto sentido!

A resposta de emergência à Covid-19 resultou na transição para um ensino remoto de emergência, em que os alunos tiveram que ficar e estudar em casa. As medidas de distanciamento social recomendadas pela Organização Mundial de Saúde e adotadas na maioria dos países provocaram o encerramento das escolas, impondo um novo modelo educacional, sustentado pelas tecnologias digitais. A Covid-19 e a crise que esta provocou levou ao encerramento de escolas e instituições de ensino superior, o que afetou cerca de 90% dos estudantes do mundo (UNESCO, 2020), impactou pais e professores e destacou ainda mais a importância da Escola.

Numa altura em que percebemos que as variantes do vírus nos querem fazer decorar o alfabeto grego e em que não sabemos com quantas letras (ou variantes) vamos ter que lidar no próximo ano escolar, as incertezas permanecem e os desafios parecem estar ao virar da esquina.

A súbita e rápida mudança nos processos educacionais tem gerado muitas incertezas e confusão nos vários intervenientes e agentes educativos, designadamente nos diretores das escolas, professores, estudantes, pais e comunidade científica, acerca da eficácia do ensino não presencial mediado pelas tecnologias digitais. No entanto, é necessário clarificar uma certa confusão que se tem verificado entre a educação a distância e o ensino remoto de emergência associado à pandemia. Provavelmente, a adaptação à nova realidade não foi a mais fácil ou a mais adequada, mas foi a possível em face da novidade da situação.

O potencial e as vantagens das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no contexto educativo, são inúmeras pois podem permitir: expandir a aprendizagem para além da sala de aula; nalguns casos melhorar a transmissão de informação e de conteúdos; os conteúdos ficam acessíveis de forma permanente, em qualquer local e em qualquer altura; o ensino dos fundamentos da leitura, escrita e matemática (como aritmética, cálculos, geometria) podem ser potenciados pela adoção de práticas de eLearning e existe ainda uma quantidade considerável de material gratuito e acessível que permite a prática e o treino destas competências; pode ainda ser um instrumento para promover a formação contínua dos professores de modo a facilitar a tomada de decisões, a resolução conjunta de problemas, reflexão de situações, partilha de conhecimentos e recursos. Assim, importa aprender com as situações vivenciadas, identificar boas práticas e tendências para o futuro da educação procurando tirar o melhor partido das tecnologias digitais.Todos queremos voltar ao presencial a tempo inteiro e com segurança, mas no atual contexto é preciso assegurar o acesso à educação em caso de emergência se necessário. Para tal, ainda há muito para fazer no que diz respeito à mitigação das desigualdades que inevitavelmente decorrem de uma maior utilização da aprendizagem digital. É essencial refletir nas práticas que se pretende desenvolver, consolidar ou evitar no próximo ano escolar e essa análise requer muita sensibilidade e bom senso.  De acordo com Dicionário Priberam da Língua Portuguesa o bom senso “é um equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta” e por sua vez, sensibilidade, refere-se à “faculdade de sentir, sentimento de humanidade e de compaixão”. Assim, teremos que nos próximos meses procurar um equilíbrio para todos, sentir como estão os vários intervenientes e agentes educativos, e tomar decisões equilibradas que permitam continuar a explorar algumas das vantagens associadas às tecnologias digitais com particular atenção à qualidade e inclusão dos estudantes e famílias vulneráveis.

Joana Soares | Licenciada em Psicologia e dedicada a projetos de educação com particular interesse em novas literacias e tecnologia educativa.

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