“Como educadora social nesta escola, a minha função é aumentar os fatores de proteção e diminuir os fatores de risco.”
Como nasceu o seu interesse em participar no curso ‘Formação Base Hora de SER: Capacitar para Implementar no 1º ciclo’, promovido pela APAV?
A primeira vez que ouvi falar deste curso foi enquanto estava a frequentar o mestrado em Educação Social – Ação Psicossocial em Contextos de Risco e, na altura, uma professora falou à turma sobre este programa. Uma vez que aqui na escola atuamos no sentido de uma prevenção precoce, achei que este programa seria uma mais-valia para complementar o nosso currículo e para promover as competências socioemocionais tão importantes para os alunos.
Na sua perceção, qual a recetividade da comunidade educativa para este curso?
A recetividade da comunidade educativa foi muito positiva. Começámos por falar com a direção do agrupamento, que disse logo que sim e se mostrou muito interessada em ter técnicos formados neste curso. E quando abordámos os professores do 1 ciclo, inicialmente os professores titulares das turmas, também se mostraram muito interessados, expressando que esta era uma necessidade que sentiam no trabalho com as turmas. Tendo em conta o momento atual do mundo e da sociedade que estamos a construir, identificamos situações que podem ser paradas com recurso a uma intervenção precoce e os professores mostraram-se muito interessados e entusiasmados em implementar o programa. Os professores têm-nos ajudado nesta implementação sempre muito empenhados e isso ajuda-nos também a ter outro ânimo para levar o programa a mais turmas.
No caso específico da sua atividade profissional, qual a mais valia que retira da participação neste curso de formação?
Como educadora social nesta escola, a minha função é aumentar os fatores de proteção e diminuir os fatores de risco. Além disso, faço a ponte entre a escola e a família, no trabalho que desenvolvo no Gabinete de Apoio ao Aluno e este programa ajuda-me a fazer isso tudo num só momento. No Gabinete também fazemos a mediação de conflitos e, quer seja em contexto de sala de aula, quer no recreio, os alunos vêm cá e tentamos gerir as situações, sendo este programa muito útil para a gestão dessas situações de conflito.
Quando estava a refletir sobre o guião desta entrevista, lembrei-me de uma situação em que estávamos em sala a trabalhar as questões de género e perguntei quantos é que tinham peluches e ficaram na expectativa de que alguém respondesse, a partir do momento em que um disse que tinha peluches, começaram todos a responder que também tinham e os nomes que lhes tinham dado. Depois perguntei quantos dormiam com peluches e aos poucos foram respondendo afirmativamente e considero que este programa é importante também nesta medida: porque trabalhar a vergonha de partilhar e o medo de ser julgado desde cedo é fundamental para a promoção de relacionamentos mais saudáveis. Na minha atividade profissional vemos estas questões nos alunos mais velhos, que se fossem trabalhadas desde cedo, a probabilidade de ocorrerem era muito menor, para além do trabalho com alunos de 17 ou 18 anos se tornar mais difícil pois implica uma maior desconstrução de estigmas.
Qual a sua opinião sobre a continuidade deste curso e alargamento ao público de pré-escolar, através do Projeto e-SER – Recursos digitais para SER (Sensibilizar e Educar para os Relacionamentos)?
Os estudos científicos mostram isso, quanto mais precoce for a intervenção maior probabilidade há das crianças estabelecerem relacionamentos mais saudáveis e de conseguirmos identificar casos de violência que infelizmente sabemos que existem. Se a violência for a realidade onde vivem, e se não falarmos sobre o tema, as crianças vão achar que é uma situação normal, por não conhecerem outra realidade; daí a importância da implementação deste programa e do seu alargamento ao pré-escolar ainda que com adaptações à especificidade do trabalho com este público.
Também implementamos outros programas com turmas do 3 ciclo e do secundário e, tendo em conta a minha experiência no dia-a-dia, algumas questões são necessárias no trabalho com este público, como por exemplo, a violência no namoro. Os alunos mais velhos, quer seja por uma questão cultural ou não, muitas vezes não se apercebem que estão a ser vítimas e que as situações que estão a viver não são normais; a dependência emocional que vemos muitas vezes em relações de namoro e mesmo nas relações de amizade, pode ser prevenida se fornecermos informação e falarmos sobre estes temas, abrindo portas para relacionamentos mais saudáveis.
O Projeto e-SER – Recursos Digitais para Sensibilizar e Educar para os Relacionamentos é co-financiado pelo Programa Cidadãos Ativ@s, suportado pelos países financiadores do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu, gerido, em Portugal, pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.
Saiba mais sobre este projeto e programa de formação aqui.