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A aprendizagem ao ar livre na educação pré-escolar

“As crianças ficam muito felizes durante as atividades no jardim e todo o ambiente da escola acompanha essa mudança.”

No âmbito da iniciativa ‘Education Resilience in Europe’, promovida pela Scientix STE(A)M Partnerships e financiada pela Cisco, entrevistamos profissionais de educação pré-escolar para debater o papel da abordagem STEAM e do espaço exterior como espaço educativo.

Este é o resultado da ‘mesa redonda’ organizada com a presença de Evanthia Evanthia e Evangelia Skaraki do jardim de infância n.º 4 de Kissamos, e de Xarikleia Theodoraki e Michalis Ioannou do jardim de infância n.º 54 de Piraeus, ambos na Grécia.

Gostaríamos de saber qual o significado para o desenvolvimento infantil de organizar atividades pedagógicas ao ar livre em vez de num espaço fechado ou sala de aula?

Xarikleia Theodoraki: No Jardim de Infância 54 de Pireus a maioria das atividades são realizadas em contexto de sala de aula. Não dispomos dos equipamentos e espaços necessários para trabalhar ao ar livre. Mas hoje, aqui em Kissamos, encontramos novas formas de usar as atividades ao ar livre e de incorporá-las no nosso currículo. É importante trabalhar com as crianças ao ar livre porque brincar, participar em atividades com outras crianças num contexto exterior faz parte do dia-a-dia. Esta visita ao Jardim de Infância n.º 4 de Kissamos foi uma excelente experiência, que servirá de inspiração para reorganizar o nosso currículo.

Evanthia Evanthia: No Jardim de Infância n.º 4 de Kissamos, o pátio exterior e as atividades ao ar livre são a parte mais importante do trabalho que desenvolvemos. Todo o programa educacional do jardim de infância depende do desenho e estrutura do pátio escolar; ou seja, organizamos e reestruturamos o nosso pátio escolar para podermos iniciar todos os nossos programas e projetos ao ar livre. É desta forma que pensamos o nosso programa para a escola e, a partir daí, vamos estabelecendo metas educativas e desenhando pequenos projetos, foi assim que começamos a nossa horta, construímos alguns dos nossos brinquedos, desenhamos as atividades, as experiências e criamos vários outros espaços educativos. É por isso que o nosso currículo é baseado no pátio da escola, começamos pelas atividades ao ar livre e depois passamos para as atividades no espaço interior. De fora vamos para dentro. Uma das principais vantagens das atividades ao ar livre é que nos dá a oportunidade de atrair visitantes ou especialistas para assistir e colaborar nos nossos programas educacionais e ambientais, o que os valoriza ainda mais.

Qual é o feedback que recebem dos encarregados de educação sobre as atividades ao ar livre?

Xarikleia Theodoraki: No Jardim de Infância 54 de Pireus é difícil trabalhar ao ar livre e muitas vezes os pais reclamam se as roupas dos filhos estiverem sujas. Também temos alguns acidentes porque as crianças caem mais vezes ao ar livre, o que leva a que às vezes se magoem e a reclamações por parte dos pais. Nesta visita, descobrimos uma forma diferente de trabalhar com as crianças no espaço exterior; acho que ainda vamos ter problemas com as roupas sujas, alerto sempre os pais que não é boa ideia as crianças usarem roupas boas, porque quando estão a brincar, é natural que se sujem.

Evanthia Evanthia: No nosso espaço exterior as crianças têm oportunidade de correr, de tocar no chão, nas flores e é normal que se sujem, tal como nós. Além disso, também usamos telas para pintar no exterior e é normal sujarmos as roupas. Toda a nossa vida escolar é pensada para estar fora da sala de aula. Temos bom tempo, a nossa área geográfica combina bom tempo e muito sol e, como resultado, passamos a maior parte do tempo no pátio da escola. Também nos preocupamos com o cuidado e manutenção dos nossos espaços verdes, e quando anunciamos que vamos cuidar do nosso jardim, as crianças usam roupas apropriadas, os pais não reclamam da roupa suja. Na verdade, os pais ficam muito felizes com isso e também participam. Os espaços verdes fazem a diferença, e mudam tudo como um dominó: as crianças ficam muito felizes durante as atividades no jardim e todo o ambiente da escola acompanha essa mudança.

Michalis Ioannou: Então os encarregados de educação aceitam estas atividades?
Xarikleia Theodoraki: O que é que os encarregados de educação gostam mais?

Evangelia Skaraki: Os pais gostam muito das atividades no jardim, na verdade estão completamente disponíveis para participar. À noite, e nos dias em que a escola está fechada, os pais voluntariam-se para cuidar dos espaços com os seus filhos, estão ativamente envolvidos na vida escolar.

Evanthia Evanthia: Os pais também se sujam! São voluntários ativos. Existe uma cultura específica nesta escola em relação à educação e aos programas ambientais e estes, gradativamente a cada ano, mesmo com professores diferentes, continuam a expandir-se. Estas ações voluntárias não são apenas na escola, mas também na comunidade, por exemplo podem limpar uma praia e uma ação que já levaram a cabo foi pintar o pátio do Museu Arqueológico de Kissamos para que as crianças possam brincar com jogos tradicionais. Neste exemplo do museu, as crianças e os pais sujaram-se durante as atividades. Existe não só o espaço escolar mas toda a cultura que se desenvolveu e, é por isso, que pais e filhos costumam ser voluntários e envolver-se ativamente em ações e atividades ao ar livre.

Xarikleia Theodoraki: A ocupação profissional dos encarregados de educação afeta as suas atitudes em relação à escola?

Evanthia Evanthia: Há uma variedade em relação à ocupação profissional dos pais. Temos agricultores, mas também temos advogados e médicos. A natureza é algo que conecta todas essas pessoas. E as crianças divertem-se tanto na escola que convencemos os pais da qualidade dos nossos programas por meio dos filhos. Logo no início do ano letivo apresentamos os nossos programas educacionais previstos e estamos comprometidos com estes programas educacionais.

Evangelia Skaraki: Os pais passam muito tempo criativo com os filhos, e isso mantém-se em casa, vão passear, juntam material e flores, sabem passar o tempo de forma lúdica e criativa com os filhos.

Evanthia Evanthia: Mas isto requer muito tempo, por isso mencionei anteriormente a importância da cultura da escola.

Como é que a abordagem STEAM se relaciona com as atividades dos Vossos Jardins de Infância e também com as atividades ao ar livre?

Xarikleia Theodoraki: No Jardim de Infância 54 de Pireus trabalhamos com atividades STEAM mas em contexto de sala de aula. Utilizamos sempre a abordagem e as atividades STEAM para criar novas situações de resolução de problemas e tentamos utilizar novos materiais para serem incorporados no nosso currículo. Com esta visita de hoje descobrimos algumas formas de trabalhar ao ar livre e vamos tentar incorporar estas atividades e materiais utilizados no nosso jardim de infância.

Evanthia Evanthia: Não separamos o ambiente interno da escola do ambiente externo. A nossa escola tem uma filosofia específica – posso fazer o que quiser, onde quiser. Se as condições do clima estiverem boas, implementamos as atividades ao ar livre, se o tempo estiver desfavorável, realizamos as atividades no espaço interior. No espaço interior da escola há uma área de aprendizagem organizada, com material que as crianças podem utilizar e experimentar livremente e onde realizamos as atividades STEAM de forma mais estruturada. Para nós, não há separação entre ambientes internos e externos. A transição do interior para o exterior é natural, se o tempo estiver bom e estivermos de bom humor então podemos sair. Temos muito espaço, colocamos os materiais lá fora e estamos prontos.

Como acham que a abordagem STEAM e as atividades outdoor favorecem a integração de crianças com necessidades educativas especiais e crianças de diferentes culturas?

Michalis Ioannou: No caso da nossa escola em Pireus, temos muitas crianças com necessidades especiais que precisam de apoio, por isso temos um professor especializado permanente e temos outros professores que trabalham individualmente com as crianças. Se dermos a estas crianças oportunidades STEAM, quer no interior quer no exterior, elas sentem-se mais livres e com mais vontade de participar, não esperamos respostas diretas mas damos-lhes diferentes materiais e tempo para experimentar com estes materiais. A maioria apresenta problemas de linguagem e de expressão, e através do recurso à abordagem STEAM podem mostrar-nos o que fizeram e esta é uma forma inclusiva de trabalhar com estas crianças, no exterior ou no interior.

Xarikleia Theodoraki: A ciência é uma linguagem comum, é uma linguagem que podemos utilizar em qualquer parte do mundo e em qualquer situação. Trabalho com crianças desde 2008, com atividades de educação científica, e muitas crianças com autismo e outras deficiências estão acostumadas a trabalhar com esta abordagem e escolhem estas atividades porque lhes permite que se expressem de uma forma diferente, podem conectar-se mais facilmente com outros e muitas vezes podem usar a sua linguagem para comunicar com os outros.

Evanthia Evanthia: Concordo totalmente com esta afirmação, a ciência é uma linguagem comum. É importante para todas as crianças e principalmente para as crianças com necessidades especiais ou de diferentes contextos culturais, sentirem que são aceites no ambiente escolar. Em relação à nossa área escolar, por um lado a nossa opinião é a necessidade de limites, o que alguém pode ou não fazer, e por outro lado é ter muitas opções. As opções estão à nossa volta, por exemplo, uma criança pode escolher uma caixa para implementar alguma atividade de ciências (laboratório de ciências), esta dá-lhe a liberdade de escolher brincar com várias coisas e não é obrigada a usar apenas a linguagem para comunicar. O mais importante para a criança é sentir-se livre e essa é uma forma de potenciar a sua participação noutras atividades. E como puderam observar hoje, existem tantas experiências e formas diferentes das crianças se envolverem nas atividades e colaborarem mas precisam de tempo. O tempo é um fator importante. Organizamos muitas experiências que são atrativas para as crianças e as fazem sentir-se livres. O sentimento de liberdade facilita a interação com as atividades e as outras crianças e educadores.

Saibam mais sobre a iniciativa Education Resilience in Europe aqui!

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