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Sensibilizar e Educar para os Relacionamentos: Testemunhos

“É importante potenciar todos os agentes educativos, para terem consciência que podem ter um papel ativo neste trabalho de prevenção da violência.”

No âmbito do Projeto e-SER – Recursos digitais para SER (Sensibilizar e Educar para os Relacionamentos), recolhemos testemunhos dos/as participantes neste programa de formação reforçando a sua importância para uma Educação democrática e inclusiva em Portugal.

Este é o testemunho de Mónica Nogueira Soares, Professora adjunta na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.

Como nasceu o seu interesse em participar no curso ‘Formação Base Hora de SER: Capacitar para Implementar no 1º ciclo’, promovido pela APAV?

Já foi há algum tempo, na verdade sempre estive a par do trabalho da APAV. Há muitos anos, já não me recordo exatamente quando, fiz uma formação no âmbito da prevenção da violência com crianças e jovens, e foi extremamente útil e, portanto, assim que vi a formação Hora de Ser, fez-me todo o sentido participar. Na altura desempenhava funções como psicóloga numa escola e foi nesse âmbito que participei na formação e ainda cheguei a desafiar colegas do agrupamento para participarmos nesta iniciativa. Sentia na altura, e continuo a sentir, a necessidade de termos de fazer o trabalho da promoção das competências socioemocionais e da prevenção da violência nas escolas. Quando soube da existência desta formação, perguntei como funcionava e fomos duas técnicas do agrupamento; numa edição posterior desafiamos a Terapeuta da Fala e duas docentes de Educação Especial para fazer a formação também. Como não é uma formação específica para psicólogos, é importante potenciar todos os agentes educativos, para terem consciência que podem ter um papel ativo neste trabalho de prevenção da violência. Este aspeto gerou-me muitas expetativas em relação ao programa Hora de Ser, porque claramente não está apenas formatado para pessoas da área das ciências sociais, não têm que ser psicólogos, ou assistentes sociais a fazer, podem ser professores e educadores. Aliás, e na verdade, foi pensado para serem professores e educadores a implementar.

Na sua perceção, qual a recetividade da comunidade educativa para este curso?

A comunidade está extremamente recetiva, sinto que todas estas ações são sempre excelentes (mas permitam-me uma provocação, desde que não sejam dinamizadas pelos professores). Na altura, na 2º edição, desafiámos professores de Educação Especial a fazerem a formação connosco e conseguimos que duas pessoas do agrupamento a tivessem feito, até com a expetativa de poderem alocar horas não letivas. Mas depois entre aquilo que são as expetativas e o que é efetivamente possível, há sempre um hiato muito grande. Há efetivamente recetividade por parte da comunidade educativa, mais do que recetividade, existe a consciência da necessidade deste tipo de trabalho, mas depois sinto que não existe um contexto muito claro de quem e quando podem ser desenvolvidas estas iniciativas. Há um contexto legal em que todas as escolas têm direito a aplicar 1 hora por semana como oferta de escola, sobre o tema que quiserem, mas depois há outros interesses, que percebo muito bem de onde vêm e com que critérios é definida, e esta oferta complementar acaba por não ser canalizada para este tipo de respostas, o que é uma pena; estas questões passam sempre para o que se chama de “currículo oculto”, vai acontecendo e vai-se fazendo.

Na altura estabeleci o contato com a APAV a solicitar que trouxessem o programa para a Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, porque quero que os estudantes passem por esta experiência desde a sua formação inicial. Se sentirem que isto faz parte das suas funções, a probabilidade de começarem a estar atentos e mais sensíveis às questões socioemocionais e implementarem atividades de prevenção da violência é muito maior. No âmbito deste pedido, chegamos a ter técnicas da APAV a apresentar o Hora de SER numa aula na Paula Frassinetti.

No caso específico da sua atividade profissional, qual a mais valia que retira da participação neste curso de formação?

Francamente acabei por nunca replicar o programa, no agrupamento o programa foi replicado mas foi precisamente no ano em que eu saí, estávamos a programar a implementação mas entretanto apostei numa outra saída profissional no ensino superior. A grande mais valia é esta facilidade com que têm o material todo pensado, o programa estruturado, validado cientificamente e amplamente testado. Isto facilita muito principalmente porque já têm um kit pronto a utilizar. Outra mais valia que considero fundamental, e que vai falhando nalgumas situações, é a formação, ou seja, o facto de potenciarem a formação e de disponibilizarem os materiais complementa-se e torna toda a experiência mais rica para todos os envolvidos. Há vários programas que podem ser adquiridos, mas depois não se sabe bem como é que devem ser implementados, o que focar e explorar em cada atividade e tema, quais as perguntas a colocar para uma melhor reflexão.. Por muito que às vezes essa informação esteja nos guiões e manuais de implementação, há sempre pequenos pormenores que passam despercebidos e o facto de no programa Hora de SER haver uma formação muito direcionada, onde os cenários de intervenção são debatidos ao pormenor, faz toda a diferença. Foi efetivamente este um dos aspetos que me cativou mais.

Qual a sua opinião sobre a continuidade deste curso e alargamento ao público de pré-escolar, através do Projeto e-SER – Recursos digitais para SER (Sensibilizar e Educar para os Relacionamentos)?

Achei extremamente interessante, os resultados de investigação dizem-nos que quanto mais precocemente começarmos a trabalhar estas questões, melhor. De facto, quando vamos às escolas, estes programas estão orientados para os momentos em que os problemas surgem, numa lógica de remediação em vez de prevenção. E é fundamental perceber que isto poderia ser pensado para o pré-escolar especificamente. E curiosamente, no pré-escolar as educadoras vão trabalhando isto, por exemplo através do livro “O monstro das cores”, tão amplamente conhecido pelas educadoras. Mas uma coisa é conhecer “O monstro das cores”, outra é pensar um programa estruturado, com princípio, meio e fim, com várias sessões com sequencialidade, lógica e estrutura. O monstro das cores, explora uma dimensão pequena de todo o trabalho que pode ser desenvolvido neste âmbito, centra-se só na exploração das emoções, quando há muito mais do que isso, temos o reconhecimento das emoções, a compreensão da influência das emoções no nosso comportamento, a expressão emocional, a regulação emocional. Para além do trabalho da prevenção da violência, é também importante trabalhar o impacto que estas questões têm em mim e no outro. Quanto mais cedo começarmos a trabalhar estes temas, efetivamente conseguiremos melhores resultados ao nível da prevenção da violência e da promoção da convivência salutar. Outra dimensão que considero muito importante é a da relação com a família, muitas vezes programas deste tipo estão focados apenas no trabalho dentro do contexto escolar, mas este, nos dois formatos, envolve também a família. Apesar de a literatura referir que no pré-escolar a família é mais envolvida e mais centrada no que está a acontecer na escola, acho que é excelente terem pensado nesta dimensão. E pensando na continuidade, seria excelente que existisse financiamento para mais anos, pois é mesmo necessário.

O Projeto e-SER – Recursos Digitais para Sensibilizar e Educar para os Relacionamentos é co-financiado pelo Programa Cidadãos Ativ@s, suportado pelos países financiadores do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu, gerido, em Portugal, pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.
Saiba mais sobre este projeto e programa de formação aqui.

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