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Escolas pelo Planeta – sensibilizar os jovens para os impactos das alterações climáticas

“Uma rede em que as escolas, professores e alunos tenham um espaço para partilhar iniciativas, quer de combate às alterações climáticas, quer de proteção do ambiente.”

Ana Margarida Vaz, tem formação de base em Ciências da Comunicação e iniciou o mestrado em Estudos do Desenvolvimento, no ISCTE. Através da Organização Não-Governamental VIDA, coordenou o projeto 1Planet4All no âmbito do qual começou a iniciativa Escolas pelo Planeta.

Susana Neves tem formação de base em Comunicação Social na Universidade do Minho e desempenha funções na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo colaborado em diversos projetos nacionais e internacionais na área da Comunicação de Ciência.

Como surgiu a ideia de criar o projeto Escolas pelo Planeta?

Ana Margarida Vaz: O Escolas pelo Planeta surgiu no âmbito do projeto 1Planet4All – Empowering youth, living EU values, tackling climate change – que foi um projeto europeu financiado pela linha DEAR (Development Education and Awareness Raising) da União Europeia, e pelo Camões, IP, com o objetivo de trabalhar com jovens dos Estados-Membros da União Europeia, com idades entre os 15 e os 35 anos. Foi um projeto que não decorreu apenas em Portugal, foi implementado por um consórcio de 14 organizações não-governamentais para o desenvolvimento em 12 países europeus.

O grande objetivo era sensibilizar os jovens para os impactos das alterações climáticas. Como a maioria das organizações do consórcio trabalham em cooperação para o desenvolvimento, nos chamados países do Sul Global, a ideia era promover a consciencialização dos impactos desiguais que a crise climática tem tido pelo mundo. Muitas vezes estas populações e comunidades com as quais trabalhamos nestes países, são afetadas desproporcionalmente pela crise climática, sem que tenham sido sequer os países e as populações que mais contribuíram para o problema. Este é um problema com consequências locais, afeta cada lugar de forma distinta mas é também um problema global, que afeta as pessoas de forma diferente e que exige soluções tanto locais como globais e trabalhadas a um nível mais macro.

Na fase de conceção do projeto, quando começámos a pensar que atividades gostaríamos de incluir e realizar em Portugal, começámos a contactar alguns parceiros e um desses parceiros foi a Faculdade de Letras da Universidade do Porto – FLUP, que tinha já a experiência nalguns projetos ligados a escolas e a trabalhar a comunicação de ciência mas, sobretudo, a comunicação relacionada com a crise climática. Quando o projeto iniciou em 2020, a FLUP acabou por assumir algumas atividades dedicadas a esta parte da comunicação de ciência. Esta também foi uma forma de conseguirmos chegar a jovens em diferentes partes do país uma vez que estamos sediados na zona de Lisboa, mais especificamente em Almada. Das atividades que desenvolvemos com a FLUP como os Speakers do Clima e os Pivots do Clima, surgiu a iniciativa Escolas pelo Planeta.

Susana Neves: No fundo o que acontece é que o Escolas pelo Planeta não é um projeto em si, que esteja isolado, mas uma iniciativa dentro do projeto 1Planet4All e surge das diversas experiências que fomos adquirindo nas escolas e no terreno em diversos projetos. Pensámos que seria interessante haver um sítio agregador dessas mesmas iniciativas, e é nessa linha que surge o Escolas pelo Planeta. A ideia é criar uma rede em que as escolas, professores e alunos tenham um espaço para partilhar iniciativas que estejam a desenvolver, quer de combate às alterações climáticas, quer, de uma forma mais global, de proteção do ambiente. As escolas enviam essas iniciativas e publicamos de forma a ficarem visíveis e disponíveis para outras pessoas. A partilha em si mesma já funciona como forma de dar visibilidade à iniciativa e, ao mesmo tempo, pretendemos motivar outras pessoas a criarem também as suas próprias iniciativas e a partilhar outras iniciativas de valor. É neste contexto que surge o Escolas pelo Planeta.

De que forma o desenho deste projeto responde à necessidade de promover a participação ativa na promoção da proteção e defesa do planeta com crianças e jovens?

Susana Neves: No site do Escolas pelo Planeta temos dois formulários disponíveis, um destinado a professores e outro destinado aos alunos. O objetivo do Escolas pelo Planeta é que efetivamente as escolas partilhem os seus projetos, mas queremos incluir verdadeiramente os jovens, que são no fundo o público-alvo do projeto. O objetivo primordial é promover o ativismo jovem, a participação cidadã. No caso da FLUP e da plataforma que desenvolvemos, isto é feito através da comunicação, promovendo a expressão da sua vontade de mudar o mundo, partilhando o que estão a fazer, dando voz e palco aos jovens.

Procuramos ter conteúdos diversos no site que atraiam as pessoas, para além de servir de plataforma onde estas podem partilhar as suas iniciativas e ter acesso ao que está a ser feito noutras escolas, funciona também como fonte de inspiração. Além disso, procuramos oferecer conteúdos produzidos pela nossa equipa, ou por pessoas envolvidas no projeto, como alguns alunos que acabaram por se tornar redatores do site, fazendo artigos sobre questões relacionadas com as alterações climáticas ou até mesmo com a comunicação das alterações climáticas. Apostamos também noutro tipo de conteúdos como entrevistas a jovens ativistas e artigos sobre o que tem vindo a ser desenvolvido nas escolas. Para além destes, temos também recursos disponíveis, que foram desenvolvidos no âmbito de outras atividades, quer da FLUP, quer dos outros parceiros do projeto, quer, ainda, de entidades externas de reconhecido mérito que consideramos pertinentes e que estão validados, podendo ser facilmente utilizados pelos professores e pelos alunos, em sala de aula ou noutros contextos.

Ana Margarida Vaz: Também fomos trabalhando em áreas diferentes, para além da comunicação: na área metropolitana de Lisboa, trabalhámos com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e com a 2adapt, uma startup que está ligada à ação climática, desenvolvendo ações mais diretas de ação climática; e trabalhámos com algumas escolas onde dinamizámos hortas ecológicas e mini florestas. Estes espaços constituíram uma oportunidade para debater estes temas e alargar a outros na área da educação – por exemplo, como podemos tornar os métodos de ensino mais inclusivos, trazendo a sala de aula para o espaço exterior e o que podemos aprender a partir destes espaços.

Estou a lembrar-me também das escolas secundárias onde foi dinamizada a atividade dos Pivots do Clima, debatendo alguns temas mais ligados à parte da comunicação das alterações climáticas, pois não podemos falar da mesma forma com um cético ou com uma pessoa que já é ativista. Alguns dos/das participantes nos Speakers pelo Planeta também integraram faseadamente estas atividades.

Da experiência com a implementação do projeto, qual a vossa perceção sobre os desafios encontrados?

Susana Neves: É o desafio que provavelmente também sentem, que é o tamanho das equipas e no fundo os recursos disponíveis. A maior dificuldade acaba por ser não haver um financiamento que permita uma continuidade dos projetos em permanência, isto porque gostávamos de ter no site novos conteúdos, entrevistas, artigos e outros formatos sobre as alterações climáticas que pudessem ser interessantes e cativantes para as pessoas. O contacto com as escolas, isto é, conseguir chegar a todas as escolas numa fase inicial, também, nem sempre é fácil, pelo número elevado de solicitações que têm.

Ana Margarida Vaz: Acrescentaria só mais uma coisa que sentimos, e penso que na FLUP também, que passa pela dificuldade de envolver em permanência estes/as jovens, num compromisso mais contínuo. Acaba por ser mais fácil quando dinamizamos determinadas atividades com escolas, no formato de educação formal, mesmo que o que façamos sejam atividades de educação não-formal dentro do horário letivo, do que iniciativas ou atividades em que são os/as próprios/as jovens a inscrever-se.

Susana Neves: Muitas vezes surge a questão da avaliação, quando os alunos sentem que vão ser avaliados estão muito mais focados e interessados, se não for o caso, por vezes, já não têm assim tanto interesse. Nesse sentido, para manter o nível de atenção e entusiasmo procuramos ter muitas dinâmicas, jogos, quizes e práticas que produzam um resultado final.

Após a implementação do projeto, que feedback têm recebido da comunidade educativa?

Susana Neves: Em relação às formações que fizemos, tivemos sempre feedback positivo, tanto dos professores como dos alunos. Gostaram bastante de participar nas iniciativas e alguns até gostavam de continuar no próximo ano letivo, o que já não é possível, porque essa parte do projeto terminou.

Em relação ao site, como é uma plataforma, tem uma dinâmica diferente, não temos tanto feedback, mas diria que de uma forma geral é positivo pois continuam a partilhar as suas experiências e iniciativas.

Ana Margarida Vaz: No geral, o feedback ao projeto foi bastante positivo. Claro que com desafios, porque tivemos atividades muito diferentes, umas ligadas à parte da comunicação, outras em escolas e com estudantes universitários, sessões de formação de professores e até atividades abertas ao público em geral. Foi um projeto bastante denso, foram três anos intensos, mas no geral o feedback que recebemos dos vários grupos envolvidos foi positivo. Até houve alguns professores que, ao tomar conhecimento do projeto, nos foram contactando para realizar atividades em conjunto com as suas turmas e escolas, o que também foi bom.

Com o final do projeto, o que é que se segue?

Susana Neves: O financiamento é inexistente, neste momento, mas o nosso objetivo é manter a plataforma pelo menos até ao final de 2024. Pretendemos dar continuidade ao que temos feito, desenvolver novos conteúdos para continuar a atrair pessoas para o site, como entrevistas, artigos, recursos, de forma a que as pessoas tenham vontade de participar e continuar a partilhar o que têm feito. O objetivo é promover a partilha deste conhecimento e do que cada uma das escolas está a desenvolver nesta área, incentivando outras a fazer o mesmo. Continuamos a desenvolver alguns conteúdos e a tentar chegar às escolas, que no fundo só têm que ir ao site, fazer a inscrição e partilhar connosco o que estão a fazer.

Ana Margarida Vaz: Do nosso lado, tentamos apresentar uma nova proposta à mesma linha de financiamento, com o mesmo consórcio e com o objetivo de aprofundar ainda mais as nossas ações e atividades. Esta candidatura não foi aprovada, que era a nossa oportunidade de podermos continuar o trabalho iniciado com o 1Planet4All e naturalmente também teríamos financiamento para continuarmos, de forma mais sólida e aprofundada, com o Escolas pelo Planeta. Neste momento, não temos em vista nenhum projeto em Portugal nesta linha de Educação para o Desenvolvimento. Somos uma equipa de pequena dimensão, e nem sempre é simples conciliar a gestão de projetos, que exige bastante tempo e dedicação, e a procura ativa de oportunidades de financiamento. Se surgir outra oportunidade, gostaríamos muito, porque consideramos muito importante este trabalho.

Susana Neves: Não sendo possível contarmos com esta continuidade do financiamento, apesar de tudo, vamos conseguir manter a plataforma até ao fim de 2024 e continuar pontualmente a fazer algumas publicações. O facto de as escolas partilharem o que estão a fazer já é em si um conteúdo bastante interessante e importante. Alimentar esta ligação é muito válido e útil no sentido de motivar outras pessoas a tomarem ação. Esse é um propósito que conseguimos manter, mas claro que o melhor cenário seria conseguirmos fazer mais.

Saiba mais sobre o projeto 1Planet4All e a iniciativa Escolas pelo Planeta.

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