Espaço Museológico Melres e Medas – a comunidade no processo de ensino-aprendizagem

Um espaço museológico vai sempre além dos livros e das salas de aula.

Ana Catarina Moreira é licenciada em História, mestranda em História da Idade Média na Universidade de Coimbra e é a coordenadora do Espaço Museológico Melres e Medas.

Mafalda Oliveira é licenciada em Ciências e Tecnologias da Comunicação e da Informação pelo ISCAP e colabora no Espaço Museológico Melres e Medas no âmbito do arquivo, gestão de documentação, conservação e gestão das redes sociais.

Fátima Santos é licenciada em História pela Universidade do Porto, mestranda em Estudos Medievais e colabora na gestão do Espaço Museológico Melres e Medas.

A equipa conta ainda com a colaboração de Carolina Rodrigues, mestre em Biologia, que colabora na parte de criação de conteúdos, gestão do espaço e parte criativa.

Como nasceu o Espaço Museológico Melres e Medas e quais são as suas principais valências?

Ana Catarina Moreira: O Espaço Museológico de Melres e Medas surgiu no seguimento de várias exposições. A primeira teve lugar em 1996 denominada 1ª Exposição Etnográfica de Melres, porque ainda não existia a união de freguesias de Melres e Medas, e a segunda em 1998 e a terceira em 2002. No seguimento destas feiras e exposições etnográficas, decidiu-se que era necessário um espaço para colocar as peças que a população ia doando.

Fátima Santos: A partir de 2014, inaugurou-se definitivamente a Semana Cultural de Melres e Medas, que é uma iniciativa anual que decorre no mês de setembro, com o objetivo de celebrar a cultura da nossa comunidade. Durante o ano temos algumas exposições permanentes, outras temporárias, e na Semana Cultural estamos abertos à comunidade.

Ana Catarina Moreira: É importante esclarecer que o museu está aberto durante todo o ano. A partir de julho e agosto, temos uma fase de modificações para a Semana Cultural. As pessoas pensam que só está aberto durante a Semana Cultural, mas na realidade está aberto para visitas durante todo o ano. Em termos das principais valências do centro museológico, destacam-se a função socioeducativa e cultural, de partilhar os valores etnográficos e as atividades culturais da nossa comunidade. Ao relembrarmos os nossos antepassados, incentivamos o pensamento crítico, levando as pessoas a relacionar diferentes situações quando estão a visitar o museu. Para além das funções essenciais que caracterizam os museus, como inventariar, preservar, conservar, divulgar e interpretar, temos estas duas funções – social e educativa. É sempre bom aprender quando visitamos um museu, e não apenas observar.

Qual a Vossa perceção sobre o contributo deste espaço no ensino da História de Portugal?

Fátima Santos: Um espaço museológico vai sempre além dos livros e das salas de aula. Aliás, são uma extensão das salas porque permitem ter acesso direto aos materiais, peças, objetos e documentos, tornando a experiência mais memorável, envolvente e, no fundo, mais real. No Espaço Museológico Melres e Medas, temos um espaço que valoriza a cultura local e regional, dando a conhecer à comunidade as tradições destas freguesias, de modo a preservar e conservar a sua memória.

Conservamos não só o quotidiano destas gentes e comunidades, mas também, a um nível mais amplo, da História de Portugal. Temos, por exemplo, as exposições temporárias: em 2024, celebrámos os cinquenta anos do 25 de Abril e, por isso, tivemos uma exposição temporária sobre este tópico. Esta oferece às pessoas a oportunidade de contactar com materiais da época e com o espólio exposto, permitindo que reflitam, desenvolvam o pensamento crítico, se sintam conectadas e possam experienciar um pouco do que foi o período antes e depois do 25 de Abril. No fundo, é uma forma de aprendizagem sobre este período marcante da nossa história.

Mafalda Oliveira: Isto é, efetivamente, fruto do trabalho de equipa. Temos um tema e o desafio é pensar como o vamos colocar no plano físico, para que as pessoas que nos visitam percebam a mensagem que pretendemos transmitir.

Ana Catarina Moreira: Esta é uma ideia que funciona muito bem. Este espaço acaba por ser um contributo para a história local, que está intrinsecamente ligada à História de Portugal. O principal núcleo de peças do espaço museológico pertence às pessoas da comunidade, embora também tenhamos peças de fora, o que demonstra que as pessoas valorizam a cultura local.

Relativamente ao contributo para o ensino da História de Portugal, pensando na exposição temporária sobre os 50 anos do 25 de Abril, através dos objetos e dos vídeos testemunhais de como as pessoas vivenciaram este evento, estamos a contribuir para uma visão partilhada da comunidade.

Através das visitas guiadas, principalmente de escolas do 1.º ciclo, é notório o interesse das crianças pelos objetos, vídeos e zonas interativas. Tocar e mexer são coisas que normalmente não se podem fazer nos museus, mas nas nossas zonas interativas é exatamente isso que pretendemos: permitir que as pessoas interajam diretamente com o museu e as suas peças.

Como funciona o serviço educativo do Espaço Museológico Melres e Medas?

Fátima Santos: Temos sempre um género de parceria com as escolas, que agendam marcações para visitas guiadas. Tendo em conta a nossa disponibilidade, asseguramos as visitas. Gostaria de esclarecer que também recebemos grupos de pessoas mais velhas, como um grupo de fuzileiros, entre outros que pretendem conhecer o espaço.

Ao acompanharmos as visitas e seguirmos um percurso, conseguimos contextualizar tudo o que os visitantes estão a ver.

É curioso que os visitantes mais novos são sempre os mais curiosos, questionando tudo porque, ao contrário das gerações mais velhas, não se identificam nem reconhecem muitas coisas. Já os visitantes mais velhos partilham as suas vivências e histórias passadas relacionadas com os objetos expostos. O compromisso educativo do museu passa por aprender e também educar. Nesse aspeto, as áreas interativas proporcionam uma experiência de como era viver antigamente, o que torna tudo mais interessante, acessível e cativante.

Mafalda Oliveira: Com o serviço educativo, tentamos tornar a experiência mais dinâmica. Este é o segundo ano em que esta equipa está neste projeto, e desde o início tínhamos como objetivo criar algo apelativo para o público jovem. Sendo uma equipa jovem, procuramos refletir essa perspetiva na parte educativa, adaptando as visitas ao público, seja ele mais novo ou mais velho.

Ana Catarina Moreira: Tentamos integrar todos os públicos. Este ano tivemos visitas da APPC – Associação do Porto de Paralisia Cerebral, que requisitaram várias visitas durante uma semana. Preparamos o museu para estar mais adaptado às necessidades específicas deste público e organizámos atividades, como lavar as mãos num alguidar antigo, para experimentarem como viviam os nossos antepassados. Acreditamos que a experiência é fundamental para a aprendizagem.

Da Vossa experiência, quais as vantagens da participação ativa da comunidade local, desde a conceção à promoção deste Espaço?

Ana Catarina Moreira: São muitas. A comunicação com a comunidade é fácil, e as pessoas sentem orgulho em ver as suas peças expostas. Algumas doam objetos temporariamente ou de forma permanente. Este é um espaço da comunidade, feito pela comunidade.

Mafalda Oliveira: A participação da comunidade também nos ajuda, enquanto equipa, a abrir horizontes e pensar mais além.

Ana Catarina Moreira: Apesar de sermos uma equipa jovem, temos o apoio das pessoas mais velhas, que iniciaram este projeto e continuam a ajudar. Trabalhamos sempre em prol da comunidade.

Fátima Santos: Essa entreajuda reflete o sentimento de pertença e de identidade com a terra e a história local.

O que podemos ver a acontecer no Espaço Museológico Melres e Medas no futuro próximo?

Ana Catarina Moreira: O objetivo a longo prazo é transformar o espaço num museu. Pretendemos organizar mais atividades, como escape rooms, peddy papers e sessões de cinema, além de criar mais zonas interativas.

Mafalda Oliveira: Desde o início, desejamos ver o espaço reconhecido como um museu oficial. Falta-nos apoio institucional, o que é frustrante, especialmente na área de preservação e restauro.

Ana Catarina Moreira: Trabalhamos de forma voluntária, e sem apoios formais, o que torna mais difícil alcançar este objetivo.

Mafalda Oliveira: Esperamos que, no futuro, o espaço museológico seja mais valorizado e tenha condições suficientes para ser um museu permanente.

Para agendar visitas no Espaço Museológico Melres e Medas, contacte através de email (espacomuseologicomelresemedas@gmail.com) ou mensagem privada na página de Instagram (@espacomuseologicomelresmedas).

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