Mosaico – a importância do diálogo intercultural

“Abordar a multiculturalidade e a interculturalidade é essencial à integração dos alunos nas turmas e no ambiente escolar como um todo.”

Luciana Peres é Diretora de Responsabilidade Social Corporativa e Diversidade, Equidade e Inclusão do BNP Paribas Portugal. Com experiência em múltiplas áreas – Operações, Vendas e Marketing & Comunicação – alia à sua atual função o compromisso de contribuir para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (UN ODS) em prol de uma sociedade mais sustentável e um futuro mais inclusivo, para todos.

Claudia Neves Oliveira faz parte do BNP Paribas Portugal há 15 anos, começando na área de Settlement do mercado Italiano e sendo atualmente Gestora de Projetos e Negócio na área de Compliance, depois de 8 anos em funções de gestão de equipas. É também Co-fundadora e Presidente da comunidade interna EthniCity, rede de colaboradores dedicada à sensibilização para a diversidade étnico-racial.

Como surgiu a ideia de criar o projeto Mosaico?

Luciana Peres: O MOSAICO surgiu de um brainstorming entre a equipa de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) do BNP Paribas e a equipa da “EthniCity” – uma comunidade interna (employee network) na qual, voluntariamente, colaboradores do Grupo se dedicam a desenvolver iniciativas e a sensibilizar os colegas para o tema da Diversidade Étnico-Racial, de Origens e Multiculturalidade. Se é verdade que existe crescente multiculturalidade em Portugal, também é verdade que as referências culturalmente diversas junto da comunidade são insuficientes. Assim sendo, foi claro o objetivo traçado: por um lado, oferecer às escolas um projeto educativo que estimulasse a reflexão conjunta sobre como transformar o ambiente escolar num espaço intercultural e, por outro lado, abrir horizontes a estes jovens e quebrar o “teto invisível”, mostrando-lhes que todos podem ser bem-sucedidos académica e profissionalmente, independentemente da sua etnia ou cultura.

Procuramos saber quem seria o parceiro de referência nesta área e a escolha do Instituto Padre António Vieira foi-nos, de facto, intuitiva – tratando-se de uma associação líder em inovação social, dedicada à promoção da diversidade e da interculturalidade, com um grande número de projetos implementados a nível nacional e internacional. Estávamos confiantes, desde o início, que o nosso processo de ideação e construção do MOSAICO seria muito mais rico e assente em conteúdos pedagógicos concretos e estruturados com a colaboração do IPAV.

O projeto foi apresentado nos Inclusion Days de 2023 – o evento anual organizado pelo BNP Paribas para a Diversidade, Equidade e Inclusão, e, com o apoio e apadrinhamento do MOSAICO pelos Sponsors e membros do Comité Executivo Fabrice Segui (CEO do BNP Paribas Portugal), Arturo John (Manager of Central KYC Hub), Rodrey Derand (Head of Audit Iberian Hub) e Sylvie Le Pottier (Head of Human Resources), sentimos que estavam reunidas as condições para uma a edição piloto.

De que forma o desenho deste projeto responde à promoção da reflexão sobre a importância do diálogo intercultural e a diversidade étnica nas escolas?

Claudia Neves Oliveira: O projeto está desenhado em três momentos: uma primeira sessão de sensibilização para conceitos como a multiculturalidade e interculturalidade; uma segunda sessão, na qual os jovens identificam os desafios de aprender num ambiente multicultural e pensam em soluções concretas para implementar na sua escola, e, por fim, uma visita aos edifícios do BNP Paribas em Lisboa e no Porto, na qual terão oportunidade de apresentar essas soluções/projetos aos altos quadros da empresa, conhecer as nossas instalações e identificar exemplos de multiculturalidade nos vários pisos e equipas do BNP Paribas. Na primeira edição, por exemplo, um dos projetos finais apresentados foi um “Festival da Interculturalidade” que a escola organizou para a comunidade educativa, o que é surpreendente e mostra a vontade dos alunos em “tirar as ideias do papel” e colocá-las em prática!

Ao longo de todas as fases do programa, os colaboradores voluntários do BNP Paribas têm um papel ativo de partilha das suas próprias experiências interculturais, e de através do apoio e mentoria à ideação das soluções a serem implementadas nas escolas-alvo.

No entanto, dados os ambiciosos objetivos do MOSAICO, o contributo do nosso parceiro IPAV é indispensável ao sucesso do programa. Por isso, aliando o conhecimento técnico e vasta experiência do IPAV nestes temas, às vivências profissionais e pessoais de interculturalidade dos colaboradores do BNP Paribas e à vontade de aprender das escolas, acreditamos que temos a “receita ideal” para a sensibilização de alunos e professores para a importância e necessidade crescente de trabalhar esta temática no sistema de ensino português.

Qual tem sido o feedback obtido por parte dos alunos, dos professores e das escolas onde têm implementado o projeto?

Claudia Neves Oliveira: O feedback que temos tido por parte da comunidade educativa reitera a necessidade de projetos educativos como o MOSAICO. Estes professores e psicólogos escolares reconhecem que abordar a multiculturalidade e a interculturalidade é essencial à integração dos alunos nas turmas e no ambiente escolar como um todo, mas sentem também que, muitas vezes, não têm os recursos nem o know-how adequado ou suficiente.

Para além de as escolas selecionadas serem Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), estamos a lidar com contextos educativos nos quais, por exemplo, existem estudantes de mais de 30 nacionalidades diferentes e nos quais, em média, 1 em cada 4 alunos não era português (percentagem bastante superior à média nacional de 14% de alunos estrangeiros no Ensino Básico e Secundário em 2024, segundo o Diário de Notícias). Por isso, ouvir professores a afirmar que “os testemunhos representam momentos únicos de empatia e motivação para os jovens” e alunos a dizer “quero que venham mais vezes” e que “devíamos fazer isto mais frequentemente” é muito gratificante. Sentir que fomos capazes de aumentar as referências multiculturais presentes nas escolas, que os inspiramos a prosseguir estudos e que os capacitamos com soft skills indispensáveis à convivência em sociedade é a definição de missão cumprida!

Da experiência com a implementação do projeto Mosaico, qual a V/ perceção sobre os desafios encontrados?

Claudia Neves Oliveira: Um dos principais desafios que encontrámos, na primeira edição, foi aprender a lidar com a multiplicidade de experiências e testemunhos partilhados pelos alunos. Vários voluntários não se sentiam preparados para ouvir algumas histórias mais duras, relacionadas a casos de bullying e discriminação racial, por exemplo, que vêm apenas espelhar a realidade vivenciada por alguns jovens nas escolas portuguesas.

Por isso, na segunda edição do MOSAICO, a equipa de organização do projeto trouxe uma novidade para os colaboradores do BNP Paribas, dando-lhes a oportunidade de experienciar dois dias “Ubuntu”, inspirados na cultura e valores promovidos pela Academia de Líderes Ubuntu do IPAV, capacitando-os a agarrar o desafio de mentoria nas escolas com mais confiança e conhecimento da temática.

Outro desafio encontrado foi a conciliação entre o calendário escolar e as agendas da equipa de projeto, que é algo que, efetivamente, acresce complexidade logística ao MOSAICO. Se por um lado os alunos e professores têm já um calendário letivo preenchido de aulas e avaliações, por outro lado, também os colaboradores do BNP Paribas desempenham esta função de “mentor” de forma voluntária. Esta questão é algo que sabíamos, desde início, que exigiria uma grande capacidade de planeamento, organização e coordenação entre as Escolas, o IPAV e o BNP Paribas. Contudo, é um esforço assumido e que vale a pena, garantidamente!

Quais os próximos passos do projeto e de que forma é que as escolas e outras entidades de ensino podem usufruir dos resultados do mesmo?

Luciana Peres: No total destas duas edições, 236 alunos do Ensino Básico e Secundário receberam o MOSAICO nas suas turmas, em 10 escolas de Portugal (6 em Lisboa e 4 no Porto), através do envolvimento de 49 mentores e 9 facilitadores do IPAV. No total, até à data, estes colaboradores do BNP Paribas dedicaram 372 horas do seu horário de trabalho para, voluntariamente, contribuírem para esta missão de promoção da interculturalidade. Ficamos felizes pelos resultados do projeto e por sentir que este tem impacto junto da comunidade escolar, e, por isso mesmo, estamos a trabalhar para alargar o MOSAICO a novas escolas, certificar enquanto “Escola MOSAICO” as que já frequentaram o programa, testar uma versão online e assíncrona do projeto para aumentar as regiões do país nas quais intervimos e desenvolver um estudo mais aprofundado e detalhado que nos permita aferir, com maior precisão, o verdadeiro impacto do MOSAICO no sucesso escolar e prossecução de estudos desta que é a geração da força de trabalho do futuro. Todas estas novidades partem da vontade conjunta do BNP Paribas e do IPAV de garantir a sustentabilidade e impacto do projeto a médio-longo prazo.

Saiba mais sobre este projeto here.

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