“Este projeto pretende promover o consumerismo, ou seja, o ato mais responsável de consumir.”
Como surgiu a ideia de criar o projeto ‘DECOJovem’?
Surge em parte como uma resposta aos professores, com a Lei de Bases do Sistema Educativo em 1986, que veio colocar a educação do consumidor como uma área transversal para a educação para a cidadania. Os professores começaram a solicitar cada vez mais apoio à DECO, documentação, recursos, ações de informação sobre estas temáticas para serem implementadas nas escolas. A partir daí, sentimos que tínhamos esta responsabilidade de apoiar as escolas, de desenvolver atividades neste sentido.
A DECO, ao longo dos anos, sentiu a necessidade de se organizar para dar uma resposta a estas situações. Quando começamos, não havia informação tão disponível sobre a defesa do consumidor, não havia recursos digitais, nem a disponibilidade digital que hoje em dia existe para fazer estas pesquisas tão abrangentes sobre a defesa e os direitos do consumidor. Assim nasce também o programa educativo DECOJovem, como uma oportunidade para preparar melhor os consumidores desde muito cedo, trabalhando com alunos desde o 1 ao 12 ano.
As escolas aderiram ao programa, o que ainda acontece, e connosco assumem este compromisso de trabalhar os temas relacionados com a defesa do consumidor, como a literacia financeira, a literacia digital, a sustentabilidade, a alimentação, que são temas que a escola pode preparar e trabalhar com os alunos.
Na verdade, a DECOJovem é uma forma organizada e sistemática que oferece aos professores a oportunidade de trabalhar estas temáticas da defesa do consumidor.
De que forma o desenho deste projeto responde à necessidade de promover o ato de consumerismo nos jovens?
Este projeto, ao lançar temas da atualidade, como a defesa do consumidor, torna-o logo mais aliciante para as escolas e para os alunos. Muitas vezes associa-se a defesa do consumidor à aquisição de produtos de boa qualidade com preços razoáveis, mas é muito mais do que isso.
Quando queremos fazer uma escolha de ter uma alimentação mais saudável, começa logo no nosso ato de consumo, no supermercado, ao comprarmos determinado produto temos de saber ler os rótulos, identificar os produtos alimentares com menos sal ou menos gordura, é uma competência do consumidor que é essencial para o nosso bem-estar e para a nossa saúde. Também temos o exemplo da literacia financeira, ao darmos ferramentas aos consumidores para saberem fazer melhor as suas escolhas, de acordo com o seu orçamento e recursos financeiros, estamos também a promover o bem-estar financeiro e a ajudar a que faça uma melhor gestão do seu orçamento.
Todos os temas trabalhados dentro da DECOJovem são temas que ajudam, neste caso, os jovens, a serem consumidores melhor preparados tanto para o presente como para o futuro, tendo melhores competências, melhores conhecimentos e atitudes que lhes permitem agir, de forma a contribuir para um mercado mais exigente e de maior qualidade.
Acima de tudo permite que os jovens, enquanto cidadãos, sejam mais conscientes, participativos, responsáveis, contribuindo para a sustentabilidade e sendo consumidores mais informados e esclarecidos. Este projeto na sua essência pretende promover o consumerismo, ou seja, o ato mais responsável de consumir.
Mais concretamente, posso dar o exemplo de uma atividade ligada à alimentação, que concluímos no final de janeiro – o ‘Green Chef’ – que já na sétima edição, tem como objetivo a produção de vídeos pelos alunos sobre receitas com sobras alimentares, que recriam uma nova receita utilizando sobras alimentares. Tentamos de uma forma dinâmica promover os conhecimentos sobre a defesa dos direitos do consumidor.
Da experiência com a implementação do projeto em contexto escolar, qual a sua perceção sobre os desafios encontrados?
Este projeto já tem mais de vinte anos e portanto aquilo que conseguimos avaliar é que a escola é muito recetiva e cada vez temos mais esse feedback da parte dos professores que colaboram e participam nas atividades.
É certo que nem todas as escolas, nem todos os professores trabalham ou dão a atenção merecida a estes temas. Mas da experiência que acumulamos até hoje, com cerca de 3500 escolas, 2000 professores e mais de 30.000 alunos envolvidos no nosso projeto e que estão inscritos na nossa plataforma, sabemos que lhes permite acompanhar as notícias e os vários temas sobre a defesa do consumidor. Digamos que dessa forma conseguimos ultrapassar os desafios que existem nesta área.
Embora o facto da educação do consumidor ser um dos onze domínios da educação para a cidadania, um dos desafios passa pelo facto do tema da cidadania ter ainda muito pouco tempo e espaço dentro da escola. Na verdade existe a educação para a cidadania como disciplina nos vários ciclos, só que o tempo letivo é muito reduzido. Por exemplo, muitas vezes os diretores de turma utilizam o espaço da disciplina para tratar questões da própria turma e portanto esta falta de tempo e a falta de uma área que permita aos professores desenvolverem este trabalho, de alguma forma prejudica os temas que são muito relevantes para a cidadania, entre os quais, a educação do consumidor.
Contudo, a nossa perceção é mais favorável, porque tem sido um projeto sempre em constante evolução e a crescer, sempre com professores e alunos a participar, o que nos dá o feedback positivo de ser uma área muito interessante para as escolas; a maior pedra neste caminho é o tempo.
Após a implementação do projeto, que feedback tem recebido dos alunos e dos professores?
Todas as nossas atividades estão sujeitas a uma avaliação que é feita pelos professores, todos os anos aplicamos um inquérito aos professores que participam nas nossas atividades e temos sempre uma avaliação muito positiva.
Também sentimos, em todas as ações que fazemos, em especial as que fazemos na escola, como a iniciativa ‘Consumer Talks’ – que consiste em ações de informação em escolas sobre estes temas e que em 2022 atingiu as 500 ações -, que a recetividade dos alunos é de facto extraordinária, daí termos um número tão elevado de ações feitas em escolas. Todos os anos fazemos estas atividades e procuramos que, para além de se focarem nesta temática, sejam atividades lúdicas para que os jovens tenham atividades diferentes das que estão habituados.
Utilizamos muito o digital, a internet e procuramos, por exemplo, fazer conferências e levar pessoas que sejam interessantes para os jovens e que tenham um discurso adequado à idade, no sentido de os envolver e conseguirmos transmitir toda esta informação e todo este conhecimento sobre a educação do consumidor.
Já tivemos projetos em que nos foi possível fazer uma avaliação individual, por termos meios de financiamento para tal, como um projeto que desenvolvemos sobre a propriedade intelectual, e efetivamente aí conseguimos verificar um aumento na compreensão e nos conhecimentos dos alunos sobre o tema da propriedade intelectual e dos direitos de autor. O crescente número de alunos e professores a participarem nas nossas atividades, principalmente as atividades que estão sempre em continuidade, é também a prova da boa recetividade das nossas ações nas escolas.
Que novidades teremos sobre o projeto no futuro?
Nós trabalhamos por ano civil mas com as escolas fazemos sempre um cronograma por ano letivo e tentamos ir ao encontro das suas necessidades e daquilo que as escolas hoje em dia nos solicitam. O grande desafio que a DECOJovem tem no futuro é continuar a alargar a sua ação nas escolas e ter mais visibilidade. Temos professores que já têm o seu registo com alguns alunos mas precisamos que cada escola, cada agrupamento e toda a comunidade educativa tenha um melhor conhecimento do que é a DECOJovem e esteja envolvida no projeto – este é o grande desafio que estamos a enfrentar.
Relativamente às iniciativas que temos, destaco o ‘sitestar.pt’, já na 10ª edição, e que se foca na literacia digital. Em parceria com o .PT, damos ferramentas para que os alunos em equipas desenvolvam o seu próprio website relacionado com a área da educação do consumidor mas, acima de tudo, desenvolvam projetos educativos como, por exemplo, lançar um jornal digital na escola. Ao longo deste ano vamos trabalhar temas da atualidade junto das escolas, que consistem nas preocupações mais recentes dos consumidores – por exemplo, o Greenwashing, a Inteligência Artificial, as criptomoedas -, queremos levar aos alunos a novidade e a informação que faça parte das suas preocupações e para melhorar o seu conhecimento sobre estas temáticas, tornar as atividades mais interessantes.
No âmbito da iniciativa ‘sitestar.pt’ vamos organizar a conferência ‘ALL TOGETHER IN THE WEB: Digital + Sustentável’, onde vamos trabalhar e debater com os jovens, se o digital é mais sustentável. E continuamos a ter as ‘Consumer Talks’, que em cada mês nos focamos numa determinada área por exemplo, em setembro tivemos o mês da alimentação, em outubro o mês da literacia financeira, em janeiro o tema foi o marketing de influência e em fevereiro como temos o dia da internet segura, temos a Consumer Talk sobre segurança na internet – ‘Navega em boas marés’.
Para participarem neste projeto basta manifestarem a sua adesão, assinando uma carta de compromisso pela direção, que consiste numa manifestação de vontade para trabalharem estas temáticas. Os professores da escola, que ficam registados na plataforma DECOJovem, passam a receber as nossas comunicações e são essas escolas que têm acesso às nossas atividades; dessa forma conseguimos que o projeto esteja sempre em crescimento.
Mais informação sobre o projeto DECOJovem aqui!