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Programa de Educação Olímpica do Comité Olímpico de Portugal

“A educação olímpica assenta na promoção dos valores, a ideia é que estes valores estejam presentes também no nosso dia-a-dia.”

Joaquim Videira é atleta olímpico, participou nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. É licenciado em Gestão do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa e trabalha no Comité Olímpico de Portugal desde 2016.

Como surgiu a ideia de criar o Programa de Educação Olímpica?

Antes de explicar como surgiu o programa é necessário perceber a sua base. Esta coincide com o início do primeiro mandato do atual presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), o Dr. José Manuel Constantino, que trouxe a visão de valorizar socialmente o desporto. O objetivo é valorizar a dimensão social e educativa do desporto e do Olimpismo, para criar diversos projetos, não só de atividade física, mas que permitam encarar o desporto de forma diferente.
Nesse sentido, em maio de 2015, foi convidado o diretor geral do Comité Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, Leonardo Gryner, para uma conferência em que falou sobre o Programa Transforma. Foi uma forma de perceber o que estava a ser feito no âmbito dos Jogos Olímpicos em 2016, e adaptar alguns conteúdos do Programa Transforma para o Programa de Educação Olímpica do COP.
Rita Nunes, à data, diretora do Gabinete de Estudos e Projetos do COP, liderou o processo de criação desta iniciativa de cariz educativo e tem vindo a promover o seu desenvolvimento. A atividade que marca o início do Programa de Educação Olímpica foi realizada em dezembro de 2015 e segue a visão do Comité Olímpico Internacional, ou do Movimento Olímpico, de construir um mundo melhor através do desporto. Não passa unicamente por organizar os Jogos Olímpicos, mas promover os Valores Olímpicos na sociedade, com foco nos jovens, e a educação olímpica toca neste ponto principalmente quando pensamos no contexto escolar. A ideia é trazermos a emoção dos Jogos Olímpicos para promovermos os Valores Olímpicos, a partir de uma componente educativa muito forte associada ao Olimpismo.

De que forma o desenho deste programa responde à promoção do Olimpismo em Portugal e aos Valores Olímpicos de excelência, amizade e respeito?

É preciso recordar que Olimpismo é muito mais do que desporto, junta três dimensões – desporto, educação e cultura -, sendo fácil perceber porque se pretende que haja educação olímpica. A educação olímpica assenta na promoção dos valores, a ideia é que estes valores estejam presentes no terreno de jogo mas também no nosso dia-a-dia. Temos muito presente a ideia de que só se fala dos Jogos Olímpicos de quatro em quatro anos, apesar de acontecerem de dois em dois com os Jogos de verão e os de inverno, mas a verdade é que a educação associada aos Jogos Olímpicos pode ser trabalhada diariamente.
Não temos um formato fixo, vamos adaptando aos objetivos das escolas, até porque escolas que existem lado a lado podem ter objetivos diferentes, dependendo do contexto dos seus alunos. Temos algumas ideias de atividades, fazemos propostas e lançamos os desafios por período em que a ideia é trabalhar alguns temas, quer seja porque nos estamos a aproximar dos Jogos Olímpicos, ou estamos a celebrar o Dia Olímpico, ou porque nos queremos focar nos Direitos Humanos ou noutra temática de interesse. Depois disponibilizamos conteúdos e informação para que os professores se sintam capacitados para desenvolver e dinamizar projetos ou atividades de educação olímpica, e estamos disponíveis para colaborar na dinamização e na implementação das atividades. Fazemos questão de partilhar as atividades que já foram desenvolvidas, e os professores podem tirar algumas ideias, têm recursos disponíveis para utilizar, tendo em conta a perspetiva que querem dar à atividade e como pode ser integrado nos conteúdos curriculares.
O crescimento do programa ao longo dos anos motivou mudanças ao nível da definição orgânica e funcional do COP. Idealizado por um gabinete, atualmente, o Programa de Educação Olímpica está integrado no Departamento de Educação e Memória Olímpica, criado para reforçar e melhorar o seu desenvolvimento.

Qual tem sido o feedback obtido por parte dos alunos e dos professores?

O feedback é muito positivo, falo sobretudo do obtido através dos professores porque são os nossos pontos de contacto. Trabalhamos com alguns professores mais de perto, são pessoas que nos vão chamando a atenção para algum tema ou alguma inovação que podemos adicionar ao programa. Alguns professores já estão no programa há muitos anos e a ligação é muito mais estreita e estamos sempre a aprender com eles, no fundo os professores ajudam-nos a evoluir e a melhorar.
Por exemplo, numa atividade que decorreu em dezembro de 2023, os alunos aceitaram o desafio de descobrir a história dos Jogos Olímpicos. Queríamos que se olhasse não só para a vertente desportiva mas também para o contexto em que os Jogos se realizaram e que identificassem os destaques daquela edição, quer fosse da participação portuguesa, quer fosse de como os Jogos condicionaram a geopolítica ou como esta condicionou os Jogos. A atividade foi realizada por alunos do 12.º ano, o professor trabalhou nesta ideia e os alunos pesquisaram, fizeram um trabalho escrito e apresentações orais de cinco minutos com os conteúdos que tinham descoberto em cada edição. Um aspeto interessante, e do qual só me apercebi já a meio da sessão, é que o professor preparou um quadro com os critérios de avaliação e, para cada apresentação, os colegas tinham de fazer uma pequena avaliação. No final, o professor preparou um quizz online para que os alunos pudessem responder, para testarem os seus conhecimentos. O mais importante não é só o que os alunos descobriram, mas as competências que adquiriram pela própria apresentação oral ou pelos trabalhos e a avaliação que tiveram de fazer.
O resultado do Programa de Educação Olímpica também se reflete nos números alcançados: 298 escolas inscritas no programa, 961 professores registados, 636 atividades que correspondem a 2377 horas de atividade, 29 desafios lançados e um total de mais de 90000 participantes nas atividades.

Da experiência com a implementação do programa, qual a sua perceção sobre os desafios encontrados?

Um é bastante óbvio, que é quando aparece o Comité Olímpico de Portugal toda a gente pensa em desporto e nós explicamos que efetivamente é desporto mas estamos focados na dimensão da educação. Quando vamos às escolas ou quando levamos algum atleta olímpico às escolas, os professores que até estão desligados desta dimensão começam a perceber que faz sentido implementar o programa.

Quando recebemos visitas de estudo ao Comité Olímpico de Portugal e vêm professores que nada têm a ver com desporto, surpreendem-se porque nas visitas não focamos apenas esta dimensão, claro que tem a ver com a questão dos Jogos Olímpicos mas com as quais se cruzam muitas outras áreas de estudo e outros domínios. Explicamos que o programa é transversal e que através deste podem ser trabalhados conhecimentos e competências das mais diversas áreas de estudo. Por exemplo, um professor de ciências vê Jogos Olímpicos e naturalmente pensa que não tem nada a ver com a sua disciplina, então disponibilizamos materiais simplificados que já têm atividades no campo das ciências, como por exemplo a nutrição. Outro exemplo é a matemática, que às vezes é um bicho papão, mas é tão simples trabalhar a matemática associada ao desporto e atividade física e, neste caso, aos Jogos Olímpicos. O objetivo será sempre a aquisição de competências e de conhecimentos utilizando um tema que acreditamos ser divertido.
O nosso maior desafio é conseguirmos dar o salto para o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO), queremos que o programa se cruze cada vez mais com este perfil, que haja a perceção da parte dos professores de que o programa pode contribuir para aquilo que são as diretrizes que o PASEO define.
Depois temos um aspeto muito positivo, pois os professores que trabalham connosco normalmente são os mais motivados, são aqueles que querem fazer coisas diferentes e isso permite-nos ultrapassar alguns constrangimentos. Infelizmente, há um grupo de embaixadores preferenciais do programa, que são os professores contratados, infelizmente é uma realidade. Como vão mudando de escola, às vezes vão trazendo o programa para a nova escola e fica a semente, temos alguns professores que estão praticamente desde o início e acabam por ser promotores do programa. Quando queremos fazer projetos-piloto ou alguma atividade diferenciada é com esses professores que contamos.

Quais os próximos passos do programa e de que forma é que as escolas podem usufruir do mesmo?

Para as escolas o programa para já é gratuito. As escolas podem aderir diretamente através do Portal de Educação Olímpica e a inscrição é fácil, é apenas uma formalidade. Procuramos que as escolas se registem, que haja pelo menos um professor registado por escola. Este é o nosso ponto de contacto, o professor responsável, para quando estamos a preparar alguma atividade ou temos que enviar desafios ou os certificados termos alguém a quem podemos telefonar ou enviar um email quando necessário.
Para o futuro, muito do que nos tem sido solicitado, pois com o crescimento do programa não conseguimos chegar a todas as atividades e escolas, é a formação de professores. É um patamar que entendemos como necessário e prioritário para que possamos crescer. O foco é dar confiança e as ferramentas para que os professores desenvolvam autonomamente os projetos.

Saiba mais sobre o programa de educação olímpica do Comité Olímpico de Portugal here!

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