fbpx

Cadernos Anónimos

Vivências de profissionais da educação em Portugal.

Entrevistamos profissionais da educação em Portugal.

Aqui protegemos a identidade dos/as entrevistados/as e libertamos a sua voz para partilhar as suas vivências na área da educação em Portugal.

O que recorda sobre o seu percurso desde a formação como professora até ao início da carreira como tal?

A minha formação como professora iniciou-se bem cedo, tendo-me licenciado aos 22 anos, mas desde esse momento senti uma grande dificuldade de integração na carreira docente, no Ensino Público, recorrendo durante muitos anos à Formação Profissional e aos Centros de Explicação, para poder exercer de alguma forma a profissão que escolhi para o meu futuro. Durante muitos anos, fui enriquecendo a minha profissão como professora com variados cursos ou ações de formação em diferentes áreas, com predominância na área da educação. Apenas desde 2017, quando integrei o Departamento de Línguas do Colégio onde estou atualmente é que posso dizer que me sinto verdadeiramente uma professora, com a estabilidade que a profissão exige, podendo exercer a minha carreira docente de forma equilibrada e gratificante, a todos os níveis.

Qual a sua opinião sobre as principais preocupações vividas pelas crianças e jovens?

De um modo geral, muitas crianças e jovens não veem a escolaridade obrigatória como uma mais-valia para a sua vida ou julgam que muita da informação passada na escola não lhe será de todo útil na sua vida futura. Há também uma grande preocupação com as suas saídas profissionais, ou seja, o que será que me espera quando acabar a escolaridade obrigatória ou após a minha licenciatura ou doutoramento?

Como avalia as oportunidades de desenvolvimento profissional para professores?

Há uma vasta oferta de cursos ou ações de formação para professores. Na minha opinião, o que falta mesmo são as oportunidades para se ser professor. A partir do momento em que se obtém uma licenciatura, com as devidas qualificações (licenciatura no Ramo Educacional), sente-se uma grande dificuldade em poder exercer essa atividade. E rejeito redondamente que qualquer indivíduo, com uma licenciatura que não direcionada para a vertente pedagógica possa ser professor. Estamos assim a desvalorizar as exigências e as competências que são necessárias para se ser um bom docente, seja no ensino público ou privado.

Como viveu o processo de passagem abrupta para um “ensino remoto de emergência”?

Não foi uma situação fácil, principalmente numa fase inicial, pois várias questões tiveram de convergir para que se pudesse efetuar um ensino com alguma qualidade, sendo que nem tudo dependia do professor. Houve questões relacionadas com a privacidade de cada um (alunos e professores); a eficácia da mensagem passada (questão da verificação ou não da presença efetiva e produtiva do aluno online), sendo que as câmaras e os microfones tinham muita influência nessa verificação; a questão dos próprios pais poderem ou não interferir numa ação que decorre normalmente numa escola, sem a sua supervisão e/ou influência; o interesse demonstrado pelos alunos, fatores externos que interferiam numa eficaz aula online (professores com filhos em casa; obras nos prédios onde se ensinava remotamente e que interferiam numa boa comunicação, etc.).

O que gostaria de ver mais e de ver menos na sua profissão em Portugal?

Gostaria de ver os professores a conseguirem exercer a profissão que escolheram, perto de casa e junto da sua família; de ver que a sociedade valoriza esta profissão (outrora já o foi) e que a reforma dos mesmos acontecesse mais cedo, pois é uma profissão extremamente desgastante e exigente. Gostaria também que as turmas tivessem menos alunos e as escolas tivessem todas as condições para um ensino de excelência, algo que os professores conseguem fazer, assim que lhes sejam proporcionadas todas as condições necessárias.

>> Partilhe connosco a sua história. Escreva-nos para hello@kokoro.pt

Veja também:

Follow us
© 2024 Associação Sem Fins Lucrativos Kokoro