A inclusão começa em casa

“A inclusão é a oportunidade de abraçar a diferença e com ela ser e fazer melhor.”

Sentirmo-nos parte integrante de um grupo é sentirmos confiança, segurança, aconchego e conforto; é sentirmo-nos úteis e capazes; é sentirmo-nos em casa. Curiosamente, nem sempre nos sentimos assim na nossa própria casa, principalmente quando somos mais pequenos. Gostaria muito de ver uma sociedade mais inclusiva, mais aberta e permeável ao diferente, seja qual for o motivo dessa diferença, no entanto, observo essa mesma sociedade a afastar as crianças – quase como se de um problema se tratasse – em prol de tudo menos estar (apenas) com as crianças.

Aprendemos por imitação, somos um ser socializante que precisa dessa interação para aprender novas competências. Contudo, observamos enquanto sociedade, uma alienação das crianças da vida dos adultos que com elas convivem. As crianças, praticamente desde o nascimento, são colocadas em objetos que as entretêm e as retêm, são afastadas de eventos sociais, físicos e/ou socialmente. Com recurso a dispositivos tecnológicos a criança está presente de corpo, mas ausente de espírito. Enquanto Educadora de Infância, vejo cada vez mais crianças nove ou mais horas nas instituições, muitas sem férias familiares (têm apenas os dias que a instituição está fechada).

Tendo em conta tudo isto, como é possível construir um paradigma mais inclusivo, tanto dentro quanto fora das escolas, se não vemos nem sentimos essa mesma inclusão? Se somos ensinados desde (demasiado) pequenos a depender de nós mesmos? Se apressamos o desenvolvimento de um bebé para que fique autónomo o mais depressa possível?

O conceito de tribo há muito se perdeu e as comunidades são aglomerados de famílias nucleares que vivem em ritmos alucinantes ora de produção ora de consumismo, famílias essas cada vez mais pequenas, com lacunas grandes na rede de apoio. O dia vive-se com o relógio no comando, sempre sem tempo e cheio de pressa. Já a criança, livre do conceito de urgência, vive cada minuto orientada pela descoberta e curiosidade. Este olhar polarizante da vida inibe o adulto de dar à criança oportunidade de participar, de ser parte integrante da família, de lhe dar tempo para aprender e cometer erros. Assim, as crianças nem aprendem competências básicas de socialização e da vida real, nem desenvolvem e aprofundam as relações emocionais e sociais de que tanto precisam para elas mesmas crescerem emocionalmente reguladas e equilibradas, seguras de Si e confiantes no Outro.

A inclusão não se restringe a integrar, a inclusão é a oportunidade de abraçar a diferença e com ela ser e fazer melhor.

Francisca Encarnação | Educadora de Infância que adorava que o mundo desacelerasse e olhasse as crianças não como um projeto a desenvolver, mas sim como um caleidoscópio de oportunidades de aprendizagem, de reflexão e de autoconhecimento; que se olhasse para a criança tal como ela é e se aceitasse a beleza da diversidade e da simplicidade.

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